top of page

Você sabe o que é o tão falado "centrão"?

  • matheusdesenna
  • 5 de fev. de 2021
  • 4 min de leitura

Nestes últimos dias, um termo não saiu do noticiário brasileiro, seja na mídia televisiva, impressa, de rádio ou internet, todos estavam falando a respeito do "centrão". Apesar de muito falado, muitas pessoas não fazem ideia do que este termo representa e nem mesmo qual é a sua importância no cenário nacional. Deixo claro que o meu intuito aqui não é o de julgar, nem mesmo de apresentar benefícios ou malefícios, mas sim explicar de modo claro e prático o que é o famoso "centrão" brasileiro.


Em primeiro lugar, temos que voltar lá em 1824, no Brasil pós independência e iniciando o período monárquico. O imperador Dom Pedro I, busca estruturar o país e então resolve um criar um poder legislativo. Porém, naquela época, além do poder legislativo ele também cria um poder moderador que o permite nomear senadores quando bem entendesse, assim como dissolver a Câmara igualmente. Como se percebe, ele cria duas casas, não para que competissem entre si ou para que uma possuísse mais poder do que a outra, mas sim para que os projetos fossem duplamente analisados. Costuma-se dizer que a Câmara tem o perfil de análise inicial e ao Senado cabe a revisão.


Somente após a Proclamação da República é que as duas casas começam a ter certa autonomia e pela primeira vez ouve-se o termo "Congresso Nacional". Desde então, passados quase 200 anos desde a criação das duas casas, elas já passaram por diversas fases e situações, sendo fechadas em determinado momento como aconteceu através do AI-5 em épocas de ditadura militar, bem como guiando o país em momentos de presidência vaga.


Reconstituída a democracia no Brasil, na época do governo Sarney, o Brasil elege uma Assembleia Nacional Constituinte, para que seja elaborada a nova Constituição do país. De um lado se opunham o Presidente da República José Sarney e de outro o presidente da Assembleia, o ex-deputado Ulysses Guimarães. Tal qual o modelo que conhecemos hoje, as duas casas são compostas por parlamentares de diversos partidos e esses geralmente constituem blocos suprapartidários, sendo um de oposição e um de situação. Além destes dois blocos, transitam pela casa parlamentares que se dizem independentes, que agem segundo eles por suas próprias vontades e sem se deixarem levar pelas opiniões de oposição ou situação.


Neste período da constituinte, um grupo de parlamentares do chamado "baixo clero" (aqueles que não possuem papel de destaque ou liderança) voltados mais ao centro e a centro-direita, negociam seu apoio ao Presidente da República em troca de alguns benefícios em prol do grupo e assim fazem com que o Governo Federal consiga aprovar alguns textos que jamais seriam aprovados sem o apoio deste grupo. Este grupo à época, foi formado por parlamentares do PFL, PL, PDS, PDC e PTB, além de alguns integrantes do PMDB, que se juntaram ao bloco de situação e garantiram a maioria necessária ao Governo.


Após a constituinte, o modelo legislativo bicamaral brasileiro não seria mais o mesmo, pois além dos blocos de oposição e situação conforme dito, surge o bloco informal do "centrão". Estes parlamentares se organizam cada vez mais a fim de terem uma força política dentro das casas capaz de decidir a favor ou contra em qualquer eleição que seja.


O "centrão" passa a ter grande destaque nos governos FHC e Lula, onde auxilia na aprovação de medidas chamadas impopulares e que garantem aos Presidentes uma vida mais tranquila durante o seu período de mandato. Em 2014, surge um movimento na Câmara dos Deputados de descontentamento com a Presidente Dilma Roussef, pois segundo os parlamentares, a atual comandante do Governo Federal não convergia e nem mesmo fazia concessões ao legislativo nacional, assim, o "centrão" atinge o seu auge. Conseguem eleger em primeiro turno na Câmara, o deputado do PMDB Eduardo Cunha, que de 2014 a 2016 trava todo e qualquer tipo de eleição que beneficiasse de alguma forma o governo de Dilma e articula minunciosamente para que esta sofra o processo de impeachment, mesmo que por motivos duvidosos. A força era tanta naquele período que quem assume a Presidência da República é um ex-integrante do bloco, o também peemedebista Michel Temer.


Com os escândalos de corrupção que ocorrem no Brasil no século XXI, o "centrão" acaba perdendo muita força durante o governo Temer, tendo muitos de seus principais nomes sendo investigados em processos criminais, outros sendo presos como o próprio ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e outros nem mesmo sendo eleitos em 2018 para novos pleitos como Eunício Oliveira, Edison Lobão, Romero Jucá e Garibaldi Alves. Apenas dois anos após a sua vertiginosa queda, o "centrão" ressurge sob a liderança de nomes como Arthur Lira, Waldemar da Costa Neto e Marcos Pereira, voltando a ter papel decisivo nos planos do Presidente da República, mas tal qual o seu passado, negociando o seu apoio político em troca de benefícios para o grupo, como cargos no alto escalão federal e verbas parlamentares.


Contestado por muitos, considerado indispensável por outros, o "centrão" se popularizou e hoje é um dos principais personagens da política brasileira.

 
 
 

Comments


© 2023 por Voz do Sucesso. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page