A história da Venezuela a partir da descoberta do petróleo
- matheusdesenna
- 3 de nov. de 2022
- 7 min de leitura

A história moderna da Venezuela se inicia em 1910 com a descoberta do petróleo venezuelano. O avanço foi tamanho que em 1914 o país já era um dos principais produtores de petróleo de todo o mundo. Desse modo, o país começa a se tornar um grande exportador mundial e começa a mudar sua história.
Nesta época, o país vizinho era comandado pelo ditador Juan Vicente Gomez, político de estreitas ligações e relações com os EUA. Suas relações eram tão próximas que faziam com que os americanos importassem o petróleo venezuelano a preço de banana. Se já não bastasse isso, grande parte da indústria petrolífera do país era formada por empresas americanas, sendo eles responsáveis até mesmo por grande parte da mão-de-obra no país.
Isso influenciou tanto a cultura venezuelana que até mesmo atualmente é possível observar várias palavras do inglês que passaram a fazer parte do vocabulário venezuelano, assim como, a população local acabou pegando adoração por alguns esportes como o beisebol.
Juan Vicente Gomez permaneceu por mais de 30 anos no poder e após a sua morte o país até respirou um pouquinho de democracia, mas não por muito tempo já que na década de 50 uma ditadura militar assumiu o país, a exemplo do que ocorreu em muitos outros países no pós guerra. Esta foi uma época de prosperidade na Venezuela, o país experimentou seu maior período de crescimento, modernização, avanço da infraestrutura e aos poucos foi se tornando um país exemplo em todo o mundo, inclusive sendo o país mais modernizado de toda a América Latina. Não a toa, neste período o país acabou se tornando um grande pólo migratório, onde até mesmo muitos europeus que tiveram seus países devastados pela Segunda Guerra Mundial, foram na Venezuela recomeçar as suas vidas. Porém, esta segunda fase de ditadura não demorou muito já que em 1958 ela cai e o país passa a ser regido por um pacto assinado por três partidos políticos que asseguravam a democracia no país. Logo, um dos três partidos se desmanchou, ficando o país sendo dominado pela COPEI e pela AD (Ação Democrática). A este período foi dado o nome de bipartidarismo.
No início da época do bipartidarismo, o país vivenciou grande prosperidade via a alternância de poder entre os dois partidos. Na década de 70 começa a florescer na Venezuela a Social Democracia, regime caracterizado pelos benefícios sociais distribuídos por parte do governo, tal qual foi com Fernando Henrique Cardoso no Brasil, onde foi criado o auxílio-gás, bolsa escola, entre muitos outros benefícios. O mundo via a Venezuela como um país riquíssimo devido a sua prosperidade oriunda do petróleo. A população venezuelana contava com energia gratuita, água gratuita, combustível e gás subsidiados (o que os tornava os mais baratos do mundo), não precisavam pagar impostos, entre muitas coisas.
Dada essa informação, conseguimos visualizar um dos maiores erros da Venezuela. O país era em sua maioria bancado pelo petróleo. Chegando a ter uma um PIB a essa época de 60% sendo da atividade petrolífera. Não precisa ser especialista para saber que em algum momento isso sairia caro, afinal, como podemos ver semanalmente no noticiário, o petróleo é um produto extremamente instável, contando com enormes variações em um custo espaço de tempo. O petróleo diverge das tradicionais políticas econômicas, tendo suas políticas em particular.
Uma das principais fontes de sucesso da economia de um país é uma economia diversificada, com várias formas de entrada de dinheiro.
Voltando ao bipartidarismo, um personagem precisa ser ressaltado, Carlos Andrés Péres foi o responsável por implantar a Social Democracia dependente do petróleo no país. O período de Péres deixou a falsa impressão de riqueza para a população, afinal, tinham uma série de benefícios sociais e com alto crescimento econômico do Estado. Para que Péres pudesse fazer isso, ele precisou aumentar o tamanho do Estado e como dissemos anteriormente, isso se deu em cima da produção petrolífera. Porém, quando o petróleo oscilava e não era suficiente para bancar aquela sistemática, o que fazer? Carlos Andrés Péres correu atrás das instituições bancárias buscando empréstimos, mas ao invés de montar uma política para diversificar a dependência do petróleo, o que se viu foi a Venezuela continuando dependente do mesmo e cada vez mais. Esperava-se que fosse montada uma estrutura de prosperidade, como observou-se em países como o EUA, porém o governo preferiu continuar despejando dinheiro para o povo, o que sabemos que não trás retorno econômico nenhum.
Ao sair do governo, Péres deixa a Venezuela extremamente endividada para o seu sucessor e sem um plano para o futuro bem definido. Seu sucesso mantém a política de benefícios sociais e toma a desastrada medida de criar o controle de câmbio. O dia em que ele toma oficialmente tal atitude, sendo este o dia 18 de fevereiro de 1983, fica conhecido como "El Vernies Negro" ou sexta-feira negra. A medida tomada criou uma grave crise econômica com aumento inflacionário e desvalorização da moeda.
Após sua saída do poder, assume a presidência Jaime Lucinti, que ao invés de tentar amenizar a situação, cria um controle de preço rigoroso. Como podemos ver atualmente em nossa vizinha Argentina, tal medida é um verdadeiro desastre. Veja bem, estamos falando em 3 presidentes seguidos cometendo graves econômicos no país. O descontentamento da população foi gigante, é claro. E o que a população fez para tentar consertar isso? Elegeram Carlos Andrés Péres novamente.
No retorno de Péres, ele toma duas medidas. A primeira diminuir o tamanho do Estado e a segunda liberar a economia. A oposição chamou as atitudes tomadas como "Paquetazo Econômico". Ventilaram aos quatro ventos para a população que as boas medidas adotadas por Péres eram na verdade para escravizar os venezuelano. Péres suspendeu alguns benefícios, privatizou empresas federais, criou um imposto federal, entre outras coisas. A ideia gerou revolta por parte da população e esse episódio ficou conhecimento como "El Caracazo". A população revoltada assaltou lojas, depredou o patrimônio público e privado, fez arruaça e para combater isso o exército foi as ruas, cuminando na morte de mais de 100 pessoas. Estamos falando de 1989, as medidas de Péres surtiram o efeito esperado inicialmente, porém os venezuelanos já estavam com o populismo encravado em seus sentimentos.
A partir daqui começamos a falar da figura do Tenente Hugo Chávez. Em 1992, Chávez e outros militares comunistas, tentaram dar dois golpes de estado no mesmo ano, sendo ambos mal sucedidos. No segundo deles, não achando o presidente para tirar sua vida como planejado, Chávez se entrega e faz um emocionado discurso a população que aquele momento já o via como um herói e salvador da pátria. Os venezuelanos que já estavam com o populismo aflorado, amaram o discurso de Chávez. Em 1995 Péres sofre o impeachment, seu sucessor sendo da oposição, como uma das primeiras medidas concede uma anistia a Hugo Chávez.
Já na eleição de 1998, graças a uma grandiosíssima campanha Hugo Chavéz é eleito presidente da Venezuela. Tão logo ele ascende ao poder, ele altera a Constituição, trazendo uma Constituição semi socialista, que entre as principais mudanças trouxe uma reforma agrária que permitiu ao Estado tomar uma série de terras que eles julgavam serem improdutivas. Com a ascensão de Chávez a Venezuela passa a ser cada vez mais dependente do petróleo, haja vista que eles passam a nacionalizar uma série de empresas e co isso deixam de lado toda a eficiência das mesmas.
No dia 11 de abril de 2002, a direita venezuelana aplica um golpe de estado em Chávez. O mesmo diz ter sido sequestrado por 47 horas, mas que no cativeiro convenceu seus sequestradores a o liberarem. O golpe dura apenas 2 dias e Hugo Chávez já retorna ao poder. Como a população não aceitou aquele golpe, Chávez volta mais forte ao poder e aumenta ainda mais o seu plano de nacionalização de empresas. Por exemplo, a empresa equivalente a Petrobras por aquelas bandas, já era estatal, porém Chávez demitiu mais de 100 mil funcionários da mesma e colocou novos funcionários todos fiéis a ele lá. O mesmo foi feito as Forças Armadas e em outros órgãos, onde toda a linha de comando foi substituída por pessoas da confiança de Chávez. A população amava Chávez, mesmo que o PIB do país era 80% oriundo do petróleo, o presidente aumentou os benefícios sociais, deu acesso a educação, faculdade e outras coisas que encantaram os olhos do povo.
No ano de 2007 Chávez perde sua única eleição na Venezuela, ele faz um referendo para população escolher por uma Constituição socialista, porém o povo escolhe que não. Mesmo assim, ele não respeita e segue o seu plano de tornar o país socialista, até sua morte em 2013.
Após sua morte o candidato chavista a presidência, Nicolas Maduro vence, em uma eleição super apertada e marcada por escândalos de corrupção e outros. Maduro implanta um controle cambial que prejudica muito a situação do país. Coincide a época a queda do barril de petróleo que chegou a cair de 100 dólares para a casa dos 30 dólares e o fato de terem nacionalizado as empresas custou muito caro, afinal o Estado não é capaz de cuidar de tudo sozinho. O país já não conseguia mais produzir nem o mínimo para a sobrevivência de sua população.
Com tudo isso acontecendo na Venezuela, a população mais uma vez se revoltou e foi para as ruas, porém o Exército é enviado para manter o controle da situação. Denúncias de crimes contra o bem estar da população e coisas semelhantes se espalham pelo mundo. A hostilidade do Exército de Maduro chama a atenção dos EUA, soma-se a isso o fato do recorde de apreensão de drogas nos EUA oriundas da Venezuela e como uma medida de tentar conter os anseios de Maduro, Obama estabelece uma série de sanções conta o país e os principais empresários de lá. A situação que já era ruim, piorou ainda mais. Donald Trump assume a presidência dos EUA e com ele vem o soco final em um país que já estava nas cordas, sanções e barreiras semelhantes as que Cuba tinha sofrido são impostas a Venezuela.
Um país dependente de apenas um produto, que experimentou uma série de erros econômicos estratégicos e com um governo socialista que terminou de acabar com tudo o que havia de próspero no país. O populismo custou muito caro a Venezuela.
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