Amado pelo povo e respeitado por todo o mundo, a queda de Dom Pedro II e do trono brasileiro
- matheusdesenna
- 21 de fev. de 2021
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Ele é considerado por muitos como o maior chefe de Estado que o Brasil já possuiu. Em seu governo, o Brasil se transformou, tendo uma prosperidade jamais vista até então, chegando a ser a 8ª maior economia e a 5ª maior marinha de todo o mundo. Amado pelo povo, respeitado por todos os países da América e Europa, afinal de contas, por qual motivo Dom Pedro II foi retirado do governo, sendo instaurada a República brasileira?
Em 1841, acontece no Brasil o "Golpe da Maioridade", onde através dele Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Habsburgo-Lorena e Bragança, então com 14 anos de idade apenas, assume o trono brasileiro, trono este que estava vago desde que seu pai, Dom Pedro I retornou a Portugal em 1831.
Dom Pedro II como era conhecido, era uma pessoa extremamente culta, viajada, discreta e apaixonada pelo país. Através de seu governo e de suas políticas, o Brasil cresce em ritmo acelerado, sendo apontado como o principal país emergente do planeta. Gozando assim de enorme prestígio entre todas as classes brasileiras, na década de 1880, o Imperador começa a apresentar sinais de cansaço. A esta época, Pedro passa a contar com um enorme e evidente declínio físico também, sendo por muitas vezes acometido por doenças e fraquezas, o que contrapunha o Imperador de décadas antes, conhecido pelo seu vigor físico e por trabalhar incansáveis horas e conseguir se reestabelecer em curto prazo.
Costumeiramente, o Imperador passar a ter febres, em reuniões importantes por vezes é pego cochilando e também conta com uma terrível incontinência urinária devido ao mal funcionamento de seus rins. Tudo isso explicado posteriormente por ser acometido por uma doença tão comum em nossos dias atuais, a diabete, que no caso dele acabou se agravando devido a péssima alimentação e a falta de uma vida mais equilibrada.

Triste, cansado e cada vez mais adoentado, o Imperador vai se afastando dos negócios do governo. Pedro que era de enorme humildade, passa até mesmo a abandonar toda a pompa e luxúria dignas de um Império, passando a viver em um estado de humildade e discrição jamais vistos. O seu modo de vida que para ele era adequado, passou a não ser para o povo, que depende de todas as demonstrações de ostentação como forma de medir a força de uma monarquia.
Com o falecimento precoce de seus filhos homens, Pedro Afonso e Afonso, Dom Pedro II tinha em sua linha sucessória sua filha, a Princesa Isabel. Ela era amada pelo povo tal qual o seu pai, porém, para o Imperador, era impensável entregar o governo brasileiro nas mãos de uma mulher. Isabel também não havia sido preparada para ser uma chefe de Estado. Apesar de suas diversas atividades na monarquia, não tinha apego algum ao poder. Aliado a isso, seu marido Gastão, o famoso Conde d´Eu, era conhecido pelo perfil "banana" e jamais seria aceito como sucessor de Pedro, muito também pelo fato de ser estrangeiro. Os netos de Dom Pedro II, apesar de gozarem de excelente educação, não tiveram por parte da família o devido preparo para se tornarem monarcas e muito menos tiveram alguma indicação de que assim seriam. Sendo assim, o trono brasileiro não possuía herdeiros e sabendo disso, o próprio Imperador ia caminhando com seus pensamentos e atos rumo a um Brasil republicano.
Na década de 1870, começaram a surgir no Brasil movimentos republicanos mais fortes, mas mesmo assim ainda tímidos. A monarquia brasileira era extremamente democrática e as pessoas gozavam inclusive de liberdade de imprensa, algo que não era normal naqueles tempos.
Com o passar do tempo, os velhos militares foram deixando o serviço militar, enquanto outros como Duque de Caxias e Marquês de Herval faleciam e isso foi abrindo espaço para que novas lideranças militares passassem a surgir no país. Lideranças essas que passam a fazer parte do cenário político nacional.

Muito da estabilidade que enfrentava o Brasil, vinha da tradição em que civis ocupassem os cargos de Ministro da Guerra e da Marinha, o que supunha um enorme respeito mútuo entre as partes, tendo os militares enorme apreço tanto pela monarquia, como pela Constituição. Porém, com os movimentos que aconteciam e com a aproximação cada vez maior de militares a política, uma certa dissidência militar foi se criando. Diante de todo esse cenário, começam a aparecer os primeiros casos de insubordinação militar no Brasil e aquele que era um dos principais pilares de estabilidade do país, começa a ruir.
Àquela altura, devido ao estado de saúde do Imperador, por mais de uma vez ele necessita se ausentar do Brasil rumo a Europa e deixa sua filha Isabel como regente. Em determinada altura, o tenente-coronel Sena Madureira, publica artigo de jornal criticando o então Ministro da Guerra Fernandes Chaves. Isso era proibido por lei, mas ao invés de punido, ele obtém o apoio de seu chefe, o Marechal Deodoro da Fonseca. Fernandes Chaves e o então chefe de gabinete conservador, o Barão de Cotegipe, decidem não penalizar o coronel, além disso, o gabinete remove qualquer restrição que impedisse militares de expressarem suas opiniões, até mesmo quanto a seus superiores. Esse fato foi fundamental para que se acabasse com toda a autoridade militar.
Um tema que naquele momento estava totalmente em alta era a abolição da escravatura no Brasil, afinal, o país ainda era o único país do Ocidente a fazer uso de mão de obra escrava. Os donos de propriedade, que possuíam grande influência à época, eram totalmente contrários a que se fossem libertados os escravos brasileiros, o contrário do que pensava a Princesa regente. Em 1888 um episódio ganha grande atenção, pois um militar embriagado é preso pela polícia por estar causando perturbações na rua. Aquele fato enfurece os oficiais, dentre eles um ganha destaque novamente, Deodoro da Fonseca. Eles exigem que o chefe de polícia seja imediatamente demitido por Cotegipe, o que é prontamente negado. Isabel que estava a frente do país no momento, aproveita para demitir não só Cotegipe como todo o gabinete conservador, uma vez que ele, Cotegipe, era contrário a abolição da escravatura. Aquele episódio foi trágico, pois apoiando os militares indisciplinados, Isabel cria maiores demandas entre eles e surge com maior entusiasmo a ideia de que era a hora de pôr fim a monarquia no Brasil. Entre os entusiastas, estava o Marechal Floriano Peixoto, que defendia uma ditadura militar no país. Ele havia sido um dos grande nomes da Guerra do Paraguai e era tido como uma lenda nas fileiras militares brasileiras.
Um outro movimento que surge com força no Brasil é o positivismo, onde militares de baixa e média patente começam a disseminar que uma república seria superior a monarquia e que algumas características do atual governo eram inadmissíveis, como a liberdade de imprensa por exemplo. Esse movimento era contrário a influência da Igreja Católica na sociedade e aos privilégios burgueses. Um de seus principais líderes era o então tenente-coronel Benjamin Constant, um professor, que inclusive era contratado do Imperador para ministrar matemática a seus netos.
Diante de todos os fatos que aconteciam no país, Dom Pedro II não esboçava a menor reação ou preocupação. Inclusive não tomava medida alguma com vistas a conter as dissidências cada vez mais evidentes que surgiam na monarquia.

Com a piora de sua saúde e as constantes febres, os médicos do Imperador o aconselham a ir para a Europa buscar um tratamento mais adequado e assim ele o faz. Na despedida é saudado por uma multidão que grita: "Vida longa a Sua Majestade". Mais uma vez sua filha fica a frente do comando do país. Para que se tenha uma ideia, Pedro embarca em junho de 1887 para a Europa e retorna apenas em agosto de 1888. Poucos meses antes de seu retorno, lhe chega a notícia de que Isabel havia assinado a Lei Áurea, abolindo assim a escravatura no Brasil. Pedro muito debilitado diz: "Grande povo, grande povo". Quando do seu retorno ao país, é recebido por um povo ainda mais inflamado e mesmo com todos os problemas, gozava de uma popularidade extremamente alta entre a população brasileira.
A abolição da escravatura no Brasil foi um sucesso. A imagem do país no exterior ficou ainda melhor, a safra de café de 1888 a qual temiam, foi bem sucedida. No ano de 1889, a política brasileira começava a ferver. Dom Pedro II é avisado que não existe a menor possibilidade de que Isabel se torne a Imperatriz brasileira e que ele mesmo deveria facilitar uma transição da monarquia para a república. Ele concorda, mostrando que àquela altura pouco se importava com o prosseguimento da monarquia. Essa opinião do Imperador não levou em consideração nem mesmo a opinião de sua filha e nem mesmo a da população que em sua maioria apoiava a monarquia.
Pedro nomeia o Visconde de Ouro Preto para seu chefe de gabinete, um monarquista ferrenho, ao contrário de seu antecessor. Ouro Preto buscaria a qualquer preço reestabelecer e restaurar a monarquia no país. Entre suas missões estava a de restaurar a insubordinação militar no Brasil. Aquilo foi erro. Insurgiram também no país fazendeiros e outras pessoas extremamente insatisfeitas com a libertação dos escravos. Entre as novas ações de governo, Dom Pedro II pede que comece a ser estudado o modelo dos EUA de Suprema Corte, a fim de que possa criar uma igual no Brasil, transferindo assim parte do poder da monarquia para ela.
Diante das reformas de Ouro Preto e por não contarem com o apoio maciço da população, os republicanos chegam a um momento de "é agora ou nunca". Na única reunião envolvendo militares e civis, dentre eles Benjamin Constant, Deodoro da Fonseca, Quintino Bocaiúva e Aristides Lobo, no dia 9 de novembro de 1889, fica acordado o golpe, aonde os dois primeiros se encubiriam dele e os outros dois cuidariam de todo o restante.
No dia 14 de novembro, Deodoro assume o comando de uma pequena tropa, de cerca de 600 militares, muitos deles sem nem saberem o real motivo de estarem ali. Ao saberem do suposto motim, Ouro Preto e outros ministros, se deslocam para o Campo de Santana no Rio de Janeiro, onde estavam tropas em maior número e melhor armadas do que os rebeldes. Porém, havia um fato que o grupo de ministros desconhecia, Marechal Floriano Peixoto, comandante adjunto do Exército, àquela altura, já haviam se aliado aos rebeldes em prol do golpe. Ao ver se aproximando a tropa de Deodoro da Fonseca, Ouro Preto, pede que abram fogo, porém ao verem os militares sem reação, tentam apelar até mesmo para os acontecimentos da Guerra do Paraguai, ao passo que houvem que naquela ocasião, estavam frente a frente contra inimigos, enquanto ali estavam frente a frente com brasileiros.
Não houve batalha, os portões foram abertos pacificamente. Deodoro naquele momento não proclamou a república. Conversou e negociou com Ouro Preto. Mesmo aqueles que lideraram o golpe estavam inseguros. Era uma temeridade em agir contra o Imperador, ainda mais sem o apoio da população.

Dom Pedro II estava em Petrópolis na manhã do dia 15 de novembro, recém saído da missa que marcava o 45º aniversário de morte de sua irmã mais velha, quando recebeu a notícia do que havia acontecido. Sem esboçar qualquer preocupação, ele toma o trem para a capital. Pessoas como o Marquês de Tamandaré tentam convencê-lo a repelir a rebelião, ele nega. Diante de toda a crise, Dom Pedro II ao chegar no Rio de Janeiro, nomeia um Presidente do Conselho, conforme negociado por Deodoro e Ouro Preto no dia anterior, porém, ele nomeia um desafeto de Deodoro, é o que bastava para que o Marechal, sem que ao menos se encontrasse com o Imperador decretasse a República naquele dia 15 de novembro de 1889.
Naquele momento, a Câmara só viria a voltar a se reunir do dia 20 de novembro e o Senado estava em férias, sendo assim, Isabel pede a seu pai para que convocasse o Conselho de Estado, o que o Imperador nega. Mesmo assim, Isabel o convoca, algumas medidas são tomadas e um representante é enviado para negociar com o líder do golpe, Marechal Deodoro da Fonseca, que apenas responde que já era tarde demais para que se mudasse de ideia. Com esta resposta, Dom Pedro II responde: "Se assim é, será minha aposentadoria. Trabalhei demais e estou cansado. Agora vou descansar". Era o fim da monarquia brasileira.
No espaço de apenas um dia, com medo da reação da população que não apoiava a deposição do Imperador, os golpistas obrigam Dom Pedro II e toda a sua família a deixarem o Brasil e irem embora para a Europa, aonde seria seu exílio. Com o apoio do Marechal Floriano Peixoto, lenda viva das Forças Armadas Brasileiras, a quem qualquer militar pensaria duas vezes ou mais para lhe contrariar, é proclamado o primeiro Presidente da República no Brasil, o Marechal Deodoro da Fonseca.
O regime republicano que sucedeu a queda da monarquia revelou-se altamente instável. Em "pouco mais de um século de existência, a República Brasileira enfrentou doze estados de emergência, dezessete Atos Institucionais, o Congresso Nacional dissolvido seis vezes, dezenove revoluções militares, duas renúncias presidenciais, três presidentes impedidos de assumir o cargo, quatro presidentes depostos, sete Constituições diferentes, quatro ditaduras e nove governos autoritários".
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