A mudança de pensamento da Igreja Católica quanto ao bem estar social

Seguindo o que se via na Europa no final do século XIX, onde as classes trabalhadoras buscavam e reinvindicavam melhores condições de vida e trabalho, estava a frente da Igreja Católica e da Santa Sé, Vincenzo Giocchino Raffaele Luigi Pecci-Prosperi-Buzzi ou apenas Papa Leão XIII, o 256º Papa da Igreja Católica, sendo seu papado um dos mais longos da história, tendo iniciado em 1878 e finalizando com seu falecimento em 1903.

Vincenzo vinha de uma família com recursos financeiros e presenciou de perto as transformações que ocorriam na Europa ao longo do século XIX e tinha ciência das que haviam acontecido anos antes, como o fim do absolutismo, a migração do campo para as cidades, o fim do teocentrismo, a busca do homem por melhores condições de vida, entre outras coisas.

Ao se tornar o líder da Igreja Católica em todo mundo e tempo presenciado tudo aquilo que ocorrera e ainda estava ocorrendo, como o escanteamento da visão da sociedade de dependência. Devido a esses fatos e mudanças era preciso a Igreja Católica se aproximar novamente do povo. Que tivesse uma linguagem que fosse do cotidiano comum da população e que lutasse pelos seus mesmos ideais.

A melhor forma dos líderes católicos expressarem seu ponto de vista ou trazerem a tona o pensamento do Catolicismo sobre determinado ponto são através das Encíclicas, que nada mais são do que livros ou cartas que abordam algum tema trazendo a visão da Igreja Católica. No papado de Leão XIII foram 28 Encíclicas no total.

Em 1881, Leão XIII publica a Encíclica "Diuturnum" que trata sobre a soberania política. Em 1885 é publicada "Immortale Dei" sobre a constituição cristã dos Estados e a liberdade humana, a fim de que se modernizasse o pensamento social católico e de sua hierarquia. No dia 15 de maio de 1891 é publicada a Encíclica "Rerum Novarum" ou traduzindo para o português "Das coisas novas".

"Das coisas novas" vem em complemento as outras duas publicadas anteriormente e ela sim busca mudar totalmente o modo em que a Igreja Católica enxerga e pensa o bem estar social do homem. Esta Encíclica é uma carta aberta a todos os bispos do mundo, tratando sobre as condições das classes trabalhadoras.

Leão XIII era favorável aos direitos dos trabalhadores em formarem sindicatos, porém, era totalmente contrário ao socialismo e também ao capitalismo irrestrito, enquanto defendia o direito a propriedade privada. A carta de Leão XIII critica a falta de ética e valores morais na sociedade laicizada daquele tempo, o que para ele era uma das grandes causas dos problemas sociais. O Papa também defendia a melhor distribuição de riquezas, intervenção do Estado na economia em favor dos mais pobres e a caridade dos empresários em prol dos funcionários.

Aos sucessores de Leão XIII, a Encíclica foi tifa como uma "Carta Magna" e através dela foram fundamentados os princípios católicos referentes ao bem estar social até os dias de hoje. É importante ressaltar que a Igreja Católica se não é a maior é uma das maiores instituições promotoras da caridade e bem estar social em todo mundo.

Difícil imaginar que Leão XIII acreditou que sua obra perduraria por mais de um século, mas através dela, Igreja Católica criou a sua "Doutrina Social da Igreja Católica" e passou a ter um olhar e um relacionamento diferente com o mundo. Leão XIII apesar de contrário ao capitalismo e refutante as ideias do marxismo, acreditava que a Igreja junto ao Estado, empregadores e empregados deveriam buscar formas de relações mais justas e que remunerassem melhor os trabalhadores.

Hoje, completa-se 130 anos da publicação de "Rerum Novarum", uma obra tão atual e que mudou a realidade e forma de se relacionar com o mundo por parte do catolicismo.